@MASTERSTHESIS{ 2025:4797743, title = {O Perímetro Irrigado do Caldeirão: modernização, trabalho e resistência no semiárido piauiense (1970-1980)}, year = {2025}, url = "https://sistemas2.uespi.br/handle/tede/2884", abstract = "O presente trabalho analisa as contradições da modernização rural implementada pelo Estado no semiárido piauiense, a partir do estudo do Perímetro Irrigado Caldeirão, localizado no município de Piripiri (PI). Implantado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) nas décadas de 1970 e 1980, o projeto foi apresentado como símbolo do progresso agrícola e da superação dos efeitos da seca, mas acabou revelando os limites e as ambiguidades do modelo de desenvolvimento aplicado ao Nordeste. A pesquisa adota os pressupostos da História Social e articula análise documental, entrevistas orais e bibliografia especializada para compreender a experiência dos irrigantes e suas estratégias de sobrevivência frente às imposições do Estado. O estudo discute a seca, a pobreza e a fome como categorias sociais e políticas historicamente construídas, à luz das reflexões de Josué de Castro (1984), Bronislaw Geremek (1986), José de Souza Martins (1994), Milton Santos (2006), Manoel Domingos Neto (1987), Edward P. Thompson (1981, 1987, 1998) e James C. Scott (1985, 1998). Os resultados demonstram que a modernização técnica promovida nos perímetros irrigados, embora tenha introduzido novas formas de produção e infraestrutura, reproduziu relações de dependência, vigilância e exclusão, convertendo os camponeses em “irrigantes-modelo” submetidos a rígidos padrões de conduta e produtividade. A técnica, apresentada como instrumento de emancipação, operou como forma de controle sobre o território e sobre o trabalho, evidenciando o que Milton Santos define como o poder político do espaço técnico. Entretanto, a análise das narrativas orais dos irrigantes revela que, mesmo sob tutela institucional, persistiram formas de resistência cotidiana, solidariedade e recriação cultural que expressam a agência camponesa frente ao processo de modernização autoritária. Essas práticas silenciosas configuram o que James Scott denomina infrapolítica: gestos sutis de oposição e sobrevivência que escapam à legibilidade do Estado. Conclui-se que a experiência do Perímetro Caldeirão traduz, em escala local, o paradoxo da modernização rural no semiárido brasileiro: um projeto que prometeu emancipação, mas consolidou novas hierarquias técnicas, sociais e simbólicas. Ao mesmo tempo, as vozes e memórias dos irrigantes reafirmam que, mesmo em meio às contradições do progresso, a resistência camponesa e o sentido social do trabalho permanecem como forças de recriação da vida no sertão.", publisher = {Universidade Estadual do Piauí}, scholl = {Licenciatura em História}, note = {Centro de Ciencias Humanas e Letras} }